Capítulo 02 – Céus trovejantes no mar de tristezas.

    Numa área de quase nenhuma vegetação, com boa parte do solo rochoso, um grupo de cinco pessoas, usando roupas e alguns capuzes velhos, que mais pareciam sacos costurados com outros pedaços panos velhos e surrados cobrindo suas faces, sussurravam entre si.

    ꟷ Merda! Temos que nos apressar. Eles logo vão chegar.

    ꟷ Está quase na hora deles virem pegar os tributos de hoje. Desse jeito vamos ser descobertos.

    ꟷ Já estamos sem tempo. Se tem tempo pra ficarem resmungando, então corre mais rápido, porra.

    ꟷ Todos descansaram? – Pergunta de maneira mais ríspida com uma voz bem grave o mais calado do grupo.

    ꟷ Sim!!! ꟷ Intimidados, os outros quatro integrantes responderam de maneira rápida e direta, finalizando assim a discussão.

    ꟷ Então, vamos nessa!

    O grupo então, começa a correr novamente em sentido a um desfiladeiro que ficava logo à frente.

    ꟷ Logo vamos chegar na floresta de bambu e avistamos o mar. O portão onde fica a entrada e saída pra essa maldita barreira que tá cercando toda essa ilha tá abarrotado de guardas. Assim que avistá-los teremos que partir pra cima com toda velocidade possível e matá-los, caso contrário eles conseguirão chamar reforços, aí estaremos fudidos caso isso aconteça.

    ꟷ Mas líder, conseguiremos dar conta de todos só com esse grupo?

    ꟷ Pelo bem de todos que estão sofrendo, mesmo que percamos a vida, precisamos tentar.

    ꟷ Entendido!!!

    Como já era de se esperar, as previsões do líder estavam corretas. Chegando próximos a um desfiladeiro eles começaram a se espreitar, avistando um maior cenário sobre ele. Logo abaixo do desfiladeiro, encontrava-se uma pequena mata com alguns bambus se estendia até próximo à praia. Apesar de quase transparente, por ter uma cor meio acinzentada, era possível a parte final da barreira e determinar seu formato como uma grande bolha de sabão que cobria toda a ilha e, próximo ao mar, já no final da barreira, uma muralha erguida de blocos de pedras com um grande portão contendo vários soldados de guarda. Todos os soldados usavam armaduras ao estilo romano, com uma grande pena vermelha em seus elmos. Alguns com lanças e outros com escudos e espadas.

    Apesar das previsões corretas, eles não esperavam que tanto do lado de dentro quanto do lado de fora tivessem tantos soldados de prontidão.

    ꟷ Droga. Parece que me equivoquei com o plano. Ainda tinha esperanças que todos eles estariam guardando só a parte de dentro, mas desse jeito… – Resmunga o líder sussurrando para o restante do grupo.

    ꟷ E agora, líder? Se atacarmos, os de fora vão chamar por reforço.

    ꟷ Como já estamos aqui, o jeito é seguir pra morte até o fim.

    ꟷ Merda!

    Vendo que não tinham como voltar depois de tudo planejado, começaram a reorganizar o plano, fazendo algumas alterações por conta dessa nova variável. O problema é que estavam tão focados que não perceberam o que vos aguardava.

“Fuuun, paft”

    ꟷ Ahhght!!!!

    ꟷ Quê aconteceu?!

    ꟷ A-ataque!!

    ꟷ Droga, uma flecha?!

    Tudo aconteceu tão rápido, que nem tiveram momento para reação. Sem perceberem que sua posição fora encontrada, descobriram da pior forma possível, com um ataque de flechas. Um dos membros teve sua perna atingida por ela e se contorcia de dor.

    Em uma situação normal, esse tipo de ataque seria percebido em questão de segundos, por conta da característica da raça “Demi humanos”, que carregam traços de animais, principalmente esse grupo, que por serem descendentes do grande Deus Fenrir, tinha por suas principais características orelhas e um focinho de cachorro que podia-se ouvir e sentir cheiros por grandes distâncias, descobrindo a localização de qualquer inimigo com antecedência. Mas, por conta da fraqueza e desnutrição de todos os escravos causada pela fome e de todos os tipos de assédio que que vinham recebendo dos soldados, seus sentidos estavam bem deteriorados, não conseguindo perceber um simples ataque.

    ꟷ Ginna! Toma conta do ferimento do Lucas.

    ꟷ Mas capitão! A flecha atravessou a panturrilha dele e está sangrando bastante. Desse jeito ele vai acabar perdendo muito sangue!

    ꟷ Merda! Então quebre parte da flecha e depois enfaixe o local com um pedaço da roupa dele. Dessa forma, podemos evitar grandes perdas.

    ꟷ Vou fazer isso, então.

    ꟷ Ótimo. Fernon e Cristin! Venham comigo pra pegar esse desgraçado que ousou machucar um de nós!

    ꟷ Sim, Capitão Dantas!

    Enquanto Ginna cuidava do ferido, Dantas, Fernon e Cristin corriam em direção ao soldado que deferiu o ataque. O soldado, sem pensar duas vezes, pegou um tipo de cano, apontou para o alto e puxou uma corda que estava na parte de baixo. De dentro, saiu grandes chamas que explodiram no céu.

    ꟷ Merda, ele chamou reforços. Vamos rápido! – Dantas pede mais agilidade logo após ver o soldado fugindo depois de ter usado o sinalizador.

    Os soldados que estavam afastados, logo se mobilizaram para ir ao local. Em menos de dois minutos, toda aquela área já estava cercada por soldados vestindo armaduras e portando escudos, espadas e lanças.

“Mesmo com todo o peso dessas armaduras, eles são bastante ágeis”, pensou Dantas.

    Sem mais opção da rota de fuga, eles decidem lutar contra os soldados, mesmo que isso significasse suas mortes.

    ꟷ Ora, ora. Parece que os vira-latas estão tentando fugir do canil.

    ꟷ Senhor, devemos matar esses cinco e fazer deles um bom exemplo do que acontece com quem tenta passar por cima de nossa autoridade.

    ꟷ Bem, no fim, esses lixos não passam de lixos. Se não fosse por conta de nosso rei, teríamos esfolado todos esses desgraçados.

    Os soldados continuam suas zombarias, humilhando os escravos com pensamentos de baixo escalão enquanto se sentem superiores, mas…

    ꟷ Ei, seus otários, porque ao invés de ficar soltando um monte de merda por esse buraco de esgoto que vocês chamam de boca, não cai pra dentro, vou te mostrar que não se deve brincar com os filhos de Fenrir.

    De provocação pra provocação, os Demi humanos também sabiam como fazer.

    ꟷ Seus desgraçados, como ousam achar que têm voz aqui, seu escravo de meia tigela!!

    Um dos soldados bem esquentado, que segurava a espada, partiu para cima do líder Dantas, com uma forte sede de sangue, Dantas, por outro lado, bem calmo, analisou toda a situação e, no momento em que o soldado iria desferir o golpe, ele rapidamente desviou-se e logo em seguida com o punho cerrado, desferiu um forte soco que fez com que o soldado fosse arremessado para cima do grupo de soldados.

    “Certo, parece que alguns deles são bastante pavio curtos. Se eu manter essa estratégia de provocação, talvez eu possa criar uma rota de fuga”.

    Com uma boa estratégia, Dantas tinha pensado em um bom plano, mas logo em seguida, antes mesmo de colocá-lo em prática, sua estratégia foi frustrada.

    ꟷ Aff. É por isso que eu detesto novatos, são imaturos e previsíveis demais. EI, CAMBADAS!! Como é que vocês se chamam de soldados e ficam nesse lenga, lenga contra o inimigo? TODOS, ENTREM EM FORMAÇÃO!!!

    O líder dos soldados já imaginando o que Dantas queria fazer, já acalmou os ânimos dos soldados, que voltaram à razão.

    “Tsc, o líder é bem experiente. Vai ser um saco, agora, com o Lucas nessa situação vai ser bem difícil, senão impossível conseguirmos dar conta de todos eles”.

    ꟷ Ei, Cristin. Como está sua estamina?

    ꟷ Ainda dou conta de levar nem que seja cinco comigo, Capitão.

    “Merda, o Cristin já está todo acabado e olhando pra cara do Fernon, ele também já não está mais nas melhores condições, e Ginna tá cuidando das feridas do Lucas. Parece que dessa vez vamos todos de base”.

    Enquanto confirmava a situação de todos do grupo, Dantas usava sua mente ao máximo para ver quais opções eles ainda tinham.

    ꟷ Todos, pressione eles, assim que pegá-los, prendam eles e levem de volta pro “Celeiro”.

    ꟷ Mas Capitão, vamos deixar esses lixos saírem impunes com essa revolta? Precisamos massacrá-los para dar exemplo pros outros escravos.

    ꟷ QUEM FOI QUE DISSE QUE VOU DEIXÁ-LOS IMPUNES? SEU RETARDADO, VAI DAR EXEMPLO PROS VENTOS POR ACASO?! Peguem eles, quando chegarmos lá, damos a devida punição.

    ꟷ E-entedi, Capitão.

    ꟷ SE ENTENDEU, ENTÃO VÃO LOGO E CAPTUREM ELES!!!

    ꟷ SIM, SENHOR!!!

    Seguindo as ordens do seu líder, os soldados avançaram ao mesmo tempo para cima dos cinco. Eles até tentaram resistir, mas por conta da grande quantidade de soldados e por conta da fraqueza e cansaço que estavam, logo foram rendidos sem tantos problemas.

♦♦♦

    Algumas horas depois, o capitão e todo o restante que participou da batalha retornaram para seus devidos postos, ficando apenas alguns soldados que carregavam os cinco amarrados em grossas correntes nos pés, braços e pescoços, eles estavam chegando no centro mais profundo da ilha, onde ficava o “Celeiro”, que é o local onde eles mantêm todos os escravos em cárcere.

    Os cinco estavam bem surrados, sendo Lucas o que estava em pior estado, por ter perdido muito sangue por conta da ferida.

    ꟷ Arfe. Se não fosse pelo capitão, tinha exterminado esses lixos por inteiro. Não entendo por que temos que gastar tantos soldados pra ficar vigiando meros escravos.

    ꟷ Ei, não fica resmungando coisas que você não sabe e só faça seu serviço direito. Não sabe que o Rei Lucélio mantém essas prisões para criar bichos de estimação pros nobres, não?

    ꟷ Pois é. Eu fiquei sabendo que tem muitos nobres que pagam rios de dinheiro pra Demi humanos, e que geralmente uma vez nas mãos deles, é morte certa.

    ꟷ Bem, pelo menos essa escória serve pra alguma coisa. Menos lixo e mais dinheiro pro nosso reino, hahahá!

    Era unânime os pensamentos e ações preconceituosas dos soldados para todos que não eram de sua raça. Mas, dentre esses grupos, tinham alguns que eram tão radicais que nem consideravam os escravos como um ser vivo.

    Com toda essa conversa de ódio enquanto caminhavam, finalmente chegaram no local onde eram mantidos todos os escravos e prisioneiros de guerra. Em sua maioria, Demi humanos, mas também tinham alguns homens, mulheres e crianças humanas.

    O local era como uma pequena vila, com algumas casas feitas de madeira e palha. E ao redor, uma meia cerca feita de tronco de árvores. Não possuía nenhum tipo de infraestrutura e nem saneamento básico. Todos que estavam ali possuíam sintomas de desnutrição extrema e alguns estavam jogados pelo chão à fora, por conta do ambiente severo. Se bobear, até os porcos tinham um lugar mais luxuoso do que todos ali.

    ꟷ Ei, pessoal! Os soldados estão vindo pra cá!

    Grita um dos escravos a todos os outros que estavam na vila.

    Ao avistarem os soldados, todos entraram em pânico e correram para a entrada da vila.

    ꟷ Droga! Parece que capturaram o grupo do Dantas.

    ꟷ Eles com certeza vão ser executados.

    ꟷ Merda, vai sobrar pra todos nós também. Eu sabia que isso ia dar muita merda!

    Todos estavam apreensivos da punição que iriam receber por tentarem se rebelar e fugir. No momento em que os soldados chegaram, trazendo o grupo arrastado, todos se calaram e o silêncio reinou no local.

    ꟷ Então quer dizer que todos vocês estavam tramando planos contra o reino, né?!

Questiona um dos soldados a todos que estavam ali presentes.

    ꟷ Vamos, o que foi?! Perderam a língua por acaso?! Bem, tanto faz. Ei, tragam os criminosos.

    Ele pede para os outros soldados trazerem os cinco e os colocam de joelhos com suas cabeças abaixadas na frente de todos.

    ꟷ Por ordem do Capitão, tomaremos a cabeça desses cinco pra deixar como um aviso a todos que desobedecerem as ordens do “Reino Ecletário”!

    Todos os soldados sacaram suas espadas e lanças para esfolarem e esquartejarem os cinco.

    No momento em que eles brandiram as armas para dar o golpe de misericórdia, um forte estrondo fez com que todos se assustassem. Junto com esse forte barulho, uma pressão absurda recaiu sobre todos, sejam escravos ou soldados, todos foram prensados sobre o chão. A barreira de energia que estava ao redor de toda a ilha começou a tremer junto com o ar. Todos sentiram em sua pele o ar vibrando intensamente.

    Com muito custo, um dos soldados conseguiu levantar o rosto e olhar para o céu. Ao focar seus olhos em um único ponto, ele nota que algo está caindo em alta velocidade em sua direção.

    ꟷ M-mas que porra é essa?

    Pois é, mal dava para acreditar, mas a pessoa que estava caindo em queda livre, berrando de todas as formas era nada mais, nada menos do que o Fábio e o filhotinho que até pouco tempo atrás estava na terra.    

ꟷ Que merda é essa que tá acontecendo COMIGOOOOOOO!!!!

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