Capítulo 04 – Pensamentos problemáticos

Dentro do Purgatório.

    “Cara, hoje a primeira ala está bem movimentada. Hm… Vamos ver… Aqueles dali são um grupo do ‘Setor de Integração’. Cinco ou seis rostos diferentes?! Parece que um novo grupinho acabou sendo admitido esse ano”.

    Estranhou-se, olhando para um grupo de indivíduos, enquanto flutuava naquele grande corredor. Seus corpos de cor prateada, eram meios transparentes. No lugar de olhos, nariz e boca, uma grande listra de cor vermelha descia de suas nucas, fazendo um formato de oito, onde descia até a parte acima do queixo e, novamente, subia para suas nucas. Apesar de serem iguais, dava-se para distinguir quem era quem, por conta dos códigos que apareciam como uma tatuagem nas duas partes do pescoço. Apesar de não ser tão fácil de se notar à primeira vista.

    “Mas queria saber o porquê de eles estarem andando por aqui, sendo que o local de serviço deles fica no primeiro andar logo acima… Com certeza tão vadiando por aí. Ah, parece que eles me viram!”, ficou um pouco ansioso, quando percebeu seus olhares direcionados a ele.

    Ele passa por perto do grupo e os cumprimenta. Sem repetir o cumprimento de volta, os seres o encaram por alguns segundos e, em seguida, voltam a conversar entre si.

    “Malditos esnobes… Se acham superior a mim, só porque trabalham em um escritório chique, onde são lançadas e classificadas todas as informações da alma de um ser em uma ficha bibliográfica. Dane-se”, ele acaba se irritando, com a atitude do grupo, mas, para não render mais assunto, resolveu simplesmente ignorar e seguir em frente.

    Aquele corredor, por ser o principal, vários seres cujo olhos humanos nunca sonharam que existissem, passam por ali. Seres humanoides de vários tipos de formatos e constituições corporais diferentes, demônios, anjos e até mesmo outras criaturas que mais pareciam bestiais tirados de uma história fantasiosa. Todos passando para lá e para cá, entrando e saindo do estabelecimento… Era o que a Morte notava, enquanto ia em direção à última sala no fundo do corredor.

    Ele finalmente avistou de longe a única porta daquele andar.

    “Finalmente! ”

    Ele tomou mais velocidade, chegando rapidamente em frente àquela grande porta feita de um tipo de material que se parecia com madeira, de aproximadamente três metros de altura. Ele parou e a encarou, olhando para a placa que estava escrito: ***“Setor de Coleta das Almas – SECALMAS”***. Com suas mãos esqueléticas, ele segura a fechadura e a empurra para o lado de dentro. Ao abrir a porta, um grande clarão surge de dentro da sala. E então, sem nenhum tipo de medo ou receio, ele entra todo confiante.

    Do lado de dentro, nota-se uma grande quantidade de seres que, assim como a morte, usam o mesmo tipo de roupas. Mas apesar da semelhança entre as vestimentas, seus corpos, no geral, são totalmente diferentes, compostos por ossos, de pés à cabeça.

    “Ah, que coisa! Parece que eu não sou o único ‘Agente da Morte’ que já finalizou o serviço… Parece que esse mês houve muitas mortes no mundo inferior… Hehehe…! Seria mais fácil se eles mudassem o nosso ‘Setor de Coletas’ do quinto andar para o primeiro. Já que muitos agentes nem sequer ficam direito por lá”, ele dá um suspiro com um tom sarcástico e de deboche, quando avista os outros Agentes da Morte. Nota-se que no purgatório, a “Morte”, não é apenas uma pessoa, mas sim uma “função”, onde vários “seres” trabalham para fazerem o recolhimento das almas daqueles que morreram.

    ⎯ Opa! E aí, Catureu! Já finalizou sua missão? ⎯ pergunta um dos Agentes da Morte ao avistar ele, enquanto ia em direção à saída.

    ⎯ Tudo certo, Tris?! Bem, essa foi uma das mais fáceis missões que eu já fiz. E você?! Soube que ficou responsável por recolher as almas de algumas espécies de árvores, né?!

    ⎯ Sim, recentemente fui promovido. Ah, que bom foi isso! Eu já estava achando que ia ficar no grupo de treinamento para sempre.

    ⎯ Hahaha! Que nada! Logo, logo, você é chamado para cuidar das almas dos animais.

    ⎯ Assim espero! Bem… De qualquer forma, tenho que subir agora para o nosso setor e passar o relatório pro supervisor.

    ⎯ Tá certo! Boa sorte lá! Vou entregar as almas que recolhi hoje e, já, já subo também.

    ⎯ Então, até mais!

    Ambos seguiram seu caminho depois de se despedirem. O Agente Catureu, continuou seu caminho, enquanto olhava ao seu redor.

    “Sem dúvida nenhuma, essa sala é maior do que o nosso setor… Arf! Fazer o quê! ”; olhava com os olhos cheios de inveja. Realmente, o local era tão grande, que mais parecia estar ao ar livre, do que em uma sala fechada.

    A sala continha um grande balcão onde as pessoas eram atendidas e várias cadeiras com pequenas mesas espalhadas por todo o local, algo como um local de descanso. Ao seu redor, além dos Agentes da Morte, também havia outros seres.

    “Com toda essa beleza, esse brilho, com certeza, essas ‘Acolhistas’ são dignas de milagres…”; se vislumbrava com aquelas lindas damas que faziam o acolhimento das almas. Quanto mais ele chegava perto dos outros agentes de seu setor, mais sentia seus olhares de hostilidade. Mas, sem ligar para aquele clima, ele continua indo direto para o balcão.

    Chegando ao balcão, uma das Acolhistas foi o atender.

    ⎯ A paz divina! ⎯ cumprimenta com um lindo e brilhante sorriso a jovem Acolhista do outro lado do balcão.

    ⎯ A paz divina! Gostaria de entregar as almas das pessoas que recolhi no mundo inferior ⎯ meio inquieto, responde Catureu.

    ⎯ Ok! O senhor pode me informar o seu nome e ID, por favor?

    Logo depois de perguntar, a jovem Acolhista ergue suas mãos no ar. E, de repente, uma tela holográfica meio transparente surge suspensa em sua frente.

    ⎯ Ah, sim! Sou o agente Catureu, do Setor de Coleta. E meu ID é 707-Morte.

    ⎯ Ok, só um instante. ⎯ ela digita as informações sobre a tela, enquanto pede para ele aguardar.

    ⎯ Ótimo! Já terminei de concluir o procedimento. O senhor já pode fazer a liberação delas aqui. Elas serão absorvidas pelo balcão do destino, e serão enviadas para o Setor de Integração, que fica no segundo andar.

    ⎯ Certo… Vou liberá-las então.

    Ele então, estica sua mão esquelética direita e, logo em seguida, libera uma forte onda de energia junto com as almas que estavam armazenadas em seu corpo. Todos os outros agentes que estavam ali, interromperam o que estavam fazendo para olhar.

    “Hump! Parece que tomei a atenção de todos, por conta de minhas grandes façanhas. Hehehe…”

    As almas que, depois de liberadas, sobrevoavam por todo aquele espaço, foram sendo absorvidas uma por uma por aquele grande balcão.

    ⎯ Fantástico! Foram exatamente cerca de vinte e cinco almas que você coletou. ⎯ ela o parabeniza com um sorriso

    ⎯ Prontinho! Tudo finalizado. O senhor está livre.

    ⎯ Ok, então estou indo.

    Quando ele já estava se virando.

    ⎯ Ah, já ia me esquecendo…! Recebi uma notificação dizendo que, assim que você terminasse aqui, era pra você ir direto pro seu setor para falar com seu supervisor, urgentemente! ⎯ comenta seriamente a atendente.

   ⎯ …Oi? ⎯ espantou-se Catureu.

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